O curso superior do rio Paiva pode caracterizar-se grosso modo como
uma zona planáltica, entre os 1000 e os 600 m, entrecortado por áreas
ribeirinhas do leito desse rio e seus afluentes, que configuram vales
entre os 600 e os 300 m. Os recursos são parcos e a paisagem é hoje
marcada pela nudez da rocha granítica e pelas manchas verdes de
pinhal, pontuada pelos campos agrícolas que procuram as zonas mais
férteis e se organizam em torno das povoações.
O estudo da malha de povoamento – e sua evolução desde a época
romana à alto medieval – levou à realização de um inventário com
recurso a métodos arqueológicos extensivos. Este texto procura analisar
apenas os dados correspondentes às sepulturas escavadas na rocha
e a forma como estes monumentos poderão estar relacionados com
assentamentos coevos (a partir do século VII).
Tendo como base de trabalho oitenta e nove sepulturas escavadas na
rocha, distribuídas por trinta e três estações arqueológicas distintas,
realiza-se primeiramente um exercício de explanação da informação
recolhida: tipologia, situação dos sepulcros, orientação e implantação.
De seguida, os resultados são discutidos e contrastados com outras
regiões para as quais estão disponíveis estudos.
Chega-se à conclusão que o curso superior do rio Paiva apresenta
algumas singularidades que poderão estar relacionadas com o carácter
periférico da região, enquanto que outros rasgos o aproximam dos restantes
grupos conhecidos de sepulcros rupestres.
Em termos de povoamento, ao admitir-se a possibilidade de associar
estes vestígios fúnebres com assentamento alto medieval, verifica-
-se que seria disperso, coincidindo em parte com o conhecido para o período precedente. Os dados recolhidos apontam para a realização
das sepulturas rupestres à margem de uma organização paroquial, ou
seja, estaríamos perante uma situação de templo paroquial ausente ou
longínquo em que os fiéis se organizam para prestar culto aos seus
mortos.