Os historiadores da música têm-se debatido nas últimas décadas com uma dúvida
capital, que se prende com o discernimento de quais serão as vias que permitem
conectar as obras musicais concretas com a sucessão de acontecimentos na qual se
inscrevem. O grande desafio é o de integrar uma «estrutura», susceptível de ser descrita
mediante ferramentas analíticas ou interpretativas, num «sistema», cujo devir é narrado
mediante ferramentas historiográficas. Nesta perspectiva, a história da música é possível
na medida em que o historiador mostra o lugar da composição na história, entendendo,
nas palavras do musicólogo americano Leo Treitler, «a natureza histórica das obras a
partir da sua constituição interna», como «a impressão de um contraponto de registos
narrativos e de dimensões que têm o texto [musical] como cantus firmus».[1] Esta
comunicação pretende apresentar uma síntese do estado da questão relativa à
historiografia musical, que incidirá fundamentalmente nas histórias gerais da música
recentemente publicadas. Será ainda discutido o papel pioneiro desempenhado, por
volta de 1970, no domínio da musicologia pelos trabalhos do mencionado Leo Treitler
e do historiador alemão Carl Dahlhaus